
No processo de feição da personalidade patológica, de todos os períodos da vida humana, a infância é, decerto, o que mais prediz como este adulto será, como suas ações serão entendidas no que concerne ao espectro entre o permitido e o inválido, entre o normal e o patológico.
Todos os adultos foram crianças, apesar de isto parecer uma terrível e tola percepção, ela é muitas vezes esquecida por nós mesmos, principalmente, quando dividimos nosso comportamento entre o infantil e o adulto. Evidente, que tal processo é típico da maioria das sociedades humanas, em especial quando nos focamos na Sociedade Ocidental, onde a infância é vista como um prelúdio do que se será quando adulto. Bem certo é crer que a infância é um período de formação de muitos níveis psíquicos superiores ao nível basal, que seria o instinto de sobrevivência, que é inerente a todos os animais ditos irracionais; no entanto, percebemos que este instinto inicial de perpetuação é, em alguns tipos específicos de patologia, renegado pelo eu, como nas depressões maiores. É interessante notar este contraponto entre o inicial e o adquirido, entre o instinto basal de sobreviver e o ideário auto-destrutivo de algumas patologias. Mas isso será debatido mais tarde em nossos encontros. Por hora, cabe ressaltar que a infância é o período onde um ente cognitivo da psiquè humana terá seu início e boa parte de seu amadurecimento. Tal ente é o que chamamos de "Teoria da Mente", a qual é constituída por quatro níveis de evolução e de interação. Nos focaremos, entretanto, no último nível e, ao meu ver, o mais importante, que é os das representações.
Basicamente este nível nos permite que criemos representações interligadas sobre o que nos cerca partindo do ponto de vista do outro, podendo criar representações mentais sobre o que é o outro e sobre o que ele poderá fazer. Vejamos com exemplos:
Um teste muito comum de teoria da mente se baseia nos estudos de representações por crianças. Tais teste são bobinhos mas revelam muito de como percebemos o outro e o mundo que nos cerca. Se pegarmos uma caneta e mostrarmos para um conjunto de crianças de idade variando entre 4 a 8 anos, e depois perguntarmos o que é aquilo, decerto que a maioria responderá que é uma caneta. Posteriormente, dizemos para elas fingirem que aquilo é um doce, e perguntamos o que uma criança que está fora daquela sala e que, portanto, não sabe que aquilo não é uma caneta, responderia ao ser questionada sobre o que é aquilo que estamos segurando.
Provavelmente, as crianças de menos de 6 anos dirão que a suposta criança dirá que é um doce; no entanto, as crianças com mais de 6 anos dirão que a dita criança responderá que é uma caneta.
O que tirar do que foi exposto?
Bem, a priori, isto parece uma confusão; porém, tal teste serve para avaliar a capacidade que temos de nos colocar no lugar de outra pessoa, sobre as circunstância que esta outra pessoa está, criando uma representação de outrem em nossa mente. Tal capacidade surge por volto dos 6 anos de idade, sendo este um momento crítico para a formação do adulto, tendo em vista que experiências traumáticas neste período podem causar danos na teoria da mente, o que, muitas vezes, explica comportamentos patológicos, como o autismo e desvios de conduta psicopatológicos.
Cabe ressaltar que outros processos podem causar ciclos propícios para o desenvolvimento da personalidade patológica, como traumas físicos, deficiências etc. Tais problemas podem causar danos no modo como a criança se percebe no mundo, o que, em casos onde hajam fatores de susceptibilidade e fatores de gatilho, geram alterações de personalidade, como neuroses e psicoses relacionadas.
Um comentário:
Canto de se adentrar no âmago e aprender profundo.
gostei.
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