sexta-feira, 11 de junho de 2010

Do Patológico III - zona de conforto e gatilhos


Podemos dizer que o processo de exarcebação de uma psicopatologia, de um influxo doentio ou de entidades similares passa por uma quebra num estado de latência, da saída de um zona de conforto.

Definimos zona de conforto como sendo uma postura comportamental na qual a psiquè humana não entrou ainda no ciclo patológico, na crise patológica propriamente dita, sendo um período no qual as susceptibilidades individuais e as influências externas mantêm constantes relações, propiciando uma estruturação da resposta deste indivíduo ao conjunto de fatores que encaminharam o desenvolvimento psíquico dele para uma ciclização patológica.

Como já dissemos na postagem anterior, as patologias da psiquè não são entidades delimitáveis ou equacionáveis como a maioria das organopatologias, tendo em mente que tais entidades psiquícas estão estreitamente relacionadas com a consciência do indivíduo que as possui. Chamamos de gatilho um acontecimento ou fato similar que possa estimular a consciência humana a sair da zona de conforto e dar início ao ciclo patológico. Este processo de saída de um estado confortável a um estado de emergência é algo decerto muito difícil de se entender, havendo muitos processos relacionados ao caminho que tal estímulo proporciona na consciência humana.

No entanto, podemos dizer que a mente humana se perde dentro de seu próprio labirinto, como se o ambiente anterior ao fato gatilho, ambiente este cheio de fatores predisponentes e de interações "alteradas", criasse uma seara propícia para que o fato gatilho interagisse com todo o conteúdo psicológico de modo danoso, revolvendo no passado medos antigos, acordando fantasmas internos que a zona de conforto dava a entender que estavam mais que enterrados.

Poderíamos dizer que a consciência pré-ciclização patológica vive num estado de equilíbrio delicado, sendo o gatilho o estímulo para que este equilíbrio seja rompido
de forma devastadora ou não, a depender da tessitura da psiquè do indivíduo em questão e dos "caminhos" que foram traçados no âmago do eu-psíquico deste ser.

domingo, 6 de junho de 2010

Do Patológico II - a sedimentação


O processo de gênese de uma certa doença mental requer um longo e florido caminho de alterações que se sucedem e se entrelaçam, não se podendo ao certo determinar onde começou nem para onde vai tal processo.

No entanto, podemos dizer que não basta apenas um estímulo nocivo para desencadear um processo de alteração psicológica, assim como nas organopatologias, as psicopatologias têm em seu âmago o fato de serem multifatoriais, desenvolvendo uma relação muito difícil de se traçar entre todos os componentes do eu-doente. Tais alterações vão se juntando com o passar do tempo, dando forma ao consciente do indivíduo, o que nos revela o caráter pessoal de cada patologia, tendo em vista que não se pode separar até onde está o ente patológico e onde reside o ente normal, o eu-sadio. Sob este aspecto, temos a base da psicoterapia, que visa um melhor "convívio" entre estes entes, entre o eu-patológico e o eu-normal de um mesmo indivíduo, primando pelo entendimento dos desejos que se reprimem e que dão tessitura a alguns traços da patologia em si.

Esta abordagem nos remete a um processo de evolução desde o primórdio da alteração até o desencadeamento de todas as demandas reprimidas deste eu-patológico, ressaltando uma estranha dicotomia entre a psiquê humana, que nutre, ao mesmo tempo, um ímpeto pela auto-destruição e auto-renovação. A primeira é a adaptação a uma nova realidade, precipitada pela mudança daquilo que se era antes; a segunda é a feição de um novo eu, de uma nova realidade, de uma nova memória, novas representações etc. Tal movimento nos propicia o poder de termos sempre como interagir com o ambiente e internalizar as informações que nascem deste.

Desta forma, temos que uma psicopatologia seria o resultado de uma sedimentação de vários entes danosos e não-danosos a uma certa consciência em formação ou formada, a um certo eu-psíquico, que, sobre tais acometimentos, tem sua consciência modificada de tal sorte que o ente patológico se torna apenas um compartimento da plenitude deste eu.

Imaginemos que o eu-psíquico com todos seus entes conscientes e ocultos seja um grande prédio, que no processo de feição tem seus compartimentos feitos pouco a pouco, de tal forma que, errando-se em um antecessor, tem-se um subsequente alterado. Tal erro pode ser apenas uma pequena pedra no primeiro andar que foi colocada no canto errado, como também pode ser uma fiação trocada por completo. No fim, o todo da construção será o conjunto de todos os acertos e erros de sua construção.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Do Patológico I - a patogênese


Este é um dos temas mais controversos de todos os até aqui abordados por este que vos budeja. Há de se ressaltar o quanto tais conceitos que aqui são expressos são devaneios e pensamentos deste ser que vos fala, não devendo ser tomados por conceitos firmados e coisas do gênero, tendo em vista que são apenas pequenas opiniões sobre entes psíquicos do comportar humano. Sob este aspecto, podemos começar nosso debate sobre o que é o patológico.

Por muitos séculos na história da humanidade as doenças mentais e afecções similares foram tratadas como coisas diferentes das doenças comuns, aliás, nem doenças elas eram consideradas. A noção supersticiosa de que tais acometimentos eram coisas oriundas de entidades espirituais e coisas do gênero é algo que entrou em desuso há muito tempo, apesar de encontrarmos ainda muitas pessoas com este tipo de visão a respeito das psicopatologias. Bem, falar sobre isso não é algo nada fácil, tendo em vista que, mesmo no meio acadêmico, as opiniões religiosas e místicas sobre a etiologia deste tipo de entidade psíquica ainda são muito prevalentes, fazendo com que tais entidades ainda sejam tratadas como algo inatingível e com um ar de mistério muito danoso para o melhor entendimento de tais patologias.

Podemos dizer que o desenvolvimento patológico se processa por uma via de adaptação do organismo ao danoso, mediada pelas possibilidades que este organismo tem de responder a tal dano, que é, de certa maneira, determinada pelas (in)possibilidades que ele já possui e pelas (in)possibilidades que o meio onde ele vive faz com que ele desenvolva. Tal preceito é bem aplicável às patologias ditas orgânicas, como diabetes, hipertensão etc, mas ainda não é de todo aceito no âmbito das doenças psíquicas, o que, ao meu ver, é um grande erro. Podemos dizer que um determinado indivíduo desenvolve uma psicopatologia da mesma forma que ele desenvolve uma organopatologia, o mecanismo criador de tal entidade segue uma constância de interação entre fatores internos, fatores externos, respostas orgânicas ou psicológicas geradas por estímulos e consequências de tais respostas mediadas pelas possibilidades do organismo. Com tal abordagem, tiramos do doente mental a culpa por sua doença, algo que ainda é muito estigmatizante para quem possui uma psicopatologia.

Sabemos que a exposição a fatores de risco é algo que pode ser atenuado ou até mesmo evitado; no entanto, não é lícito que o doente seja culpado por desenvolver uma doença, qualquer que seja ela, tendo em vista que fatores não controlavéis por ele têm papel determinante na gênese da alteração.