segunda-feira, 12 de julho de 2010

Do Patológico IV - a infância




No processo de feição da personalidade patológica, de todos os períodos da vida humana, a infância é, decerto, o que mais prediz como este adulto será, como suas ações serão entendidas no que concerne ao espectro entre o permitido e o inválido, entre o normal e o patológico.
Todos os adultos foram crianças, apesar de isto parecer uma terrível e tola percepção, ela é muitas vezes esquecida por nós mesmos, principalmente, quando dividimos nosso comportamento entre o infantil e o adulto. Evidente, que tal processo é típico da maioria das sociedades humanas, em especial quando nos focamos na Sociedade Ocidental, onde a infância é vista como um prelúdio do que se será quando adulto. Bem certo é crer que a infância é um período de formação de muitos níveis psíquicos superiores ao nível basal, que seria o instinto de sobrevivência, que é inerente a todos os animais ditos irracionais; no entanto, percebemos que este instinto inicial de perpetuação é, em alguns tipos específicos de patologia, renegado pelo eu, como nas depressões maiores. É interessante notar este contraponto entre o inicial e o adquirido, entre o instinto basal de sobreviver e o ideário auto-destrutivo de algumas patologias. Mas isso será debatido mais tarde em nossos encontros. Por hora, cabe ressaltar que a infância é o período onde um ente cognitivo da psiquè humana terá seu início e boa parte de seu amadurecimento. Tal ente é o que chamamos de "Teoria da Mente", a qual é constituída por quatro níveis de evolução e de interação. Nos focaremos, entretanto, no último nível e, ao meu ver, o mais importante, que é os das representações.
Basicamente este nível nos permite que criemos representações interligadas sobre o que nos cerca partindo do ponto de vista do outro, podendo criar representações mentais sobre o que é o outro e sobre o que ele poderá fazer. Vejamos com exemplos:

Um teste muito comum de teoria da mente se baseia nos estudos de representações por crianças. Tais teste são bobinhos mas revelam muito de como percebemos o outro e o mundo que nos cerca. Se pegarmos uma caneta e mostrarmos para um conjunto de crianças de idade variando entre 4 a 8 anos, e depois perguntarmos o que é aquilo, decerto que a maioria responderá que é uma caneta. Posteriormente, dizemos para elas fingirem que aquilo é um doce, e perguntamos o que uma criança que está fora daquela sala e que, portanto, não sabe que aquilo não é uma caneta, responderia ao ser questionada sobre o que é aquilo que estamos segurando.
Provavelmente, as crianças de menos de 6 anos dirão que a suposta criança dirá que é um doce; no entanto, as crianças com mais de 6 anos dirão que a dita criança responderá que é uma caneta.

O que tirar do que foi exposto?
Bem, a priori, isto parece uma confusão; porém, tal teste serve para avaliar a capacidade que temos de nos colocar no lugar de outra pessoa, sobre as circunstância que esta outra pessoa está, criando uma representação de outrem em nossa mente. Tal capacidade surge por volto dos 6 anos de idade, sendo este um momento crítico para a formação do adulto, tendo em vista que experiências traumáticas neste período podem causar danos na teoria da mente, o que, muitas vezes, explica comportamentos patológicos, como o autismo e desvios de conduta psicopatológicos.

Cabe ressaltar que outros processos podem causar ciclos propícios para o desenvolvimento da personalidade patológica, como traumas físicos, deficiências etc. Tais problemas podem causar danos no modo como a criança se percebe no mundo, o que, em casos onde hajam fatores de susceptibilidade e fatores de gatilho, geram alterações de personalidade, como neuroses e psicoses relacionadas.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Do Patológico III - zona de conforto e gatilhos


Podemos dizer que o processo de exarcebação de uma psicopatologia, de um influxo doentio ou de entidades similares passa por uma quebra num estado de latência, da saída de um zona de conforto.

Definimos zona de conforto como sendo uma postura comportamental na qual a psiquè humana não entrou ainda no ciclo patológico, na crise patológica propriamente dita, sendo um período no qual as susceptibilidades individuais e as influências externas mantêm constantes relações, propiciando uma estruturação da resposta deste indivíduo ao conjunto de fatores que encaminharam o desenvolvimento psíquico dele para uma ciclização patológica.

Como já dissemos na postagem anterior, as patologias da psiquè não são entidades delimitáveis ou equacionáveis como a maioria das organopatologias, tendo em mente que tais entidades psiquícas estão estreitamente relacionadas com a consciência do indivíduo que as possui. Chamamos de gatilho um acontecimento ou fato similar que possa estimular a consciência humana a sair da zona de conforto e dar início ao ciclo patológico. Este processo de saída de um estado confortável a um estado de emergência é algo decerto muito difícil de se entender, havendo muitos processos relacionados ao caminho que tal estímulo proporciona na consciência humana.

No entanto, podemos dizer que a mente humana se perde dentro de seu próprio labirinto, como se o ambiente anterior ao fato gatilho, ambiente este cheio de fatores predisponentes e de interações "alteradas", criasse uma seara propícia para que o fato gatilho interagisse com todo o conteúdo psicológico de modo danoso, revolvendo no passado medos antigos, acordando fantasmas internos que a zona de conforto dava a entender que estavam mais que enterrados.

Poderíamos dizer que a consciência pré-ciclização patológica vive num estado de equilíbrio delicado, sendo o gatilho o estímulo para que este equilíbrio seja rompido
de forma devastadora ou não, a depender da tessitura da psiquè do indivíduo em questão e dos "caminhos" que foram traçados no âmago do eu-psíquico deste ser.

domingo, 6 de junho de 2010

Do Patológico II - a sedimentação


O processo de gênese de uma certa doença mental requer um longo e florido caminho de alterações que se sucedem e se entrelaçam, não se podendo ao certo determinar onde começou nem para onde vai tal processo.

No entanto, podemos dizer que não basta apenas um estímulo nocivo para desencadear um processo de alteração psicológica, assim como nas organopatologias, as psicopatologias têm em seu âmago o fato de serem multifatoriais, desenvolvendo uma relação muito difícil de se traçar entre todos os componentes do eu-doente. Tais alterações vão se juntando com o passar do tempo, dando forma ao consciente do indivíduo, o que nos revela o caráter pessoal de cada patologia, tendo em vista que não se pode separar até onde está o ente patológico e onde reside o ente normal, o eu-sadio. Sob este aspecto, temos a base da psicoterapia, que visa um melhor "convívio" entre estes entes, entre o eu-patológico e o eu-normal de um mesmo indivíduo, primando pelo entendimento dos desejos que se reprimem e que dão tessitura a alguns traços da patologia em si.

Esta abordagem nos remete a um processo de evolução desde o primórdio da alteração até o desencadeamento de todas as demandas reprimidas deste eu-patológico, ressaltando uma estranha dicotomia entre a psiquê humana, que nutre, ao mesmo tempo, um ímpeto pela auto-destruição e auto-renovação. A primeira é a adaptação a uma nova realidade, precipitada pela mudança daquilo que se era antes; a segunda é a feição de um novo eu, de uma nova realidade, de uma nova memória, novas representações etc. Tal movimento nos propicia o poder de termos sempre como interagir com o ambiente e internalizar as informações que nascem deste.

Desta forma, temos que uma psicopatologia seria o resultado de uma sedimentação de vários entes danosos e não-danosos a uma certa consciência em formação ou formada, a um certo eu-psíquico, que, sobre tais acometimentos, tem sua consciência modificada de tal sorte que o ente patológico se torna apenas um compartimento da plenitude deste eu.

Imaginemos que o eu-psíquico com todos seus entes conscientes e ocultos seja um grande prédio, que no processo de feição tem seus compartimentos feitos pouco a pouco, de tal forma que, errando-se em um antecessor, tem-se um subsequente alterado. Tal erro pode ser apenas uma pequena pedra no primeiro andar que foi colocada no canto errado, como também pode ser uma fiação trocada por completo. No fim, o todo da construção será o conjunto de todos os acertos e erros de sua construção.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Do Patológico I - a patogênese


Este é um dos temas mais controversos de todos os até aqui abordados por este que vos budeja. Há de se ressaltar o quanto tais conceitos que aqui são expressos são devaneios e pensamentos deste ser que vos fala, não devendo ser tomados por conceitos firmados e coisas do gênero, tendo em vista que são apenas pequenas opiniões sobre entes psíquicos do comportar humano. Sob este aspecto, podemos começar nosso debate sobre o que é o patológico.

Por muitos séculos na história da humanidade as doenças mentais e afecções similares foram tratadas como coisas diferentes das doenças comuns, aliás, nem doenças elas eram consideradas. A noção supersticiosa de que tais acometimentos eram coisas oriundas de entidades espirituais e coisas do gênero é algo que entrou em desuso há muito tempo, apesar de encontrarmos ainda muitas pessoas com este tipo de visão a respeito das psicopatologias. Bem, falar sobre isso não é algo nada fácil, tendo em vista que, mesmo no meio acadêmico, as opiniões religiosas e místicas sobre a etiologia deste tipo de entidade psíquica ainda são muito prevalentes, fazendo com que tais entidades ainda sejam tratadas como algo inatingível e com um ar de mistério muito danoso para o melhor entendimento de tais patologias.

Podemos dizer que o desenvolvimento patológico se processa por uma via de adaptação do organismo ao danoso, mediada pelas possibilidades que este organismo tem de responder a tal dano, que é, de certa maneira, determinada pelas (in)possibilidades que ele já possui e pelas (in)possibilidades que o meio onde ele vive faz com que ele desenvolva. Tal preceito é bem aplicável às patologias ditas orgânicas, como diabetes, hipertensão etc, mas ainda não é de todo aceito no âmbito das doenças psíquicas, o que, ao meu ver, é um grande erro. Podemos dizer que um determinado indivíduo desenvolve uma psicopatologia da mesma forma que ele desenvolve uma organopatologia, o mecanismo criador de tal entidade segue uma constância de interação entre fatores internos, fatores externos, respostas orgânicas ou psicológicas geradas por estímulos e consequências de tais respostas mediadas pelas possibilidades do organismo. Com tal abordagem, tiramos do doente mental a culpa por sua doença, algo que ainda é muito estigmatizante para quem possui uma psicopatologia.

Sabemos que a exposição a fatores de risco é algo que pode ser atenuado ou até mesmo evitado; no entanto, não é lícito que o doente seja culpado por desenvolver uma doença, qualquer que seja ela, tendo em vista que fatores não controlavéis por ele têm papel determinante na gênese da alteração.

domingo, 30 de maio de 2010

Das Diferenças


Boas noites divanos e divanas que perdem seu tempo com este blog! A esta hora em que o mundo brasileira está quase desfalecendo diante do Fantástico, vamos começar um interessante debate. Já falamos sobre o pensamento e suas características básicas, sobre o normal; agora vamos tecer sobre o diferente.
O diferente é aquilo que não é o padrão, é aquilo que foge do normal. De primeiro lida, podemos até confundir tal definição com o patológico, a fim de destruir tais dúvidas e confusões, vamos fazer um pequeno exemplo:

Imaginemos uma menina de 10 que vive na casa de seus pais no Brasil. Ela resolve namorar com outra menina da mesma idade. Seus pais são ultra-religiosos e desaprovam o relacionamento.

De tal exemplo podemos tirar as seguintes noções primordiais:

1. é normal meninas morarem com seus pais;
2. não é normal meninas tão jovens namorarem no Brasil;
3. não é normal meninas namorarem com meninas no Brasil;
4. é normal pais religiosos serem contra namoros homossexuais.

Perceba que a noção de normal que estou me referindo é a de média geral! Muitas vezes as pessoas,"asnamente", extrapolam a noção de normalidade e a confundem com o conceito de certo e errado, que é algo bem diferente, conforme debateremos algum dia nestes saraus filosóficos e psiquícos que travamos, leitores.
Podemos dizer que o diferente está num determinado intervalo de normalidade, sendo, pois, o padrão comportamental da maioria uma interessante ponderação dos extremos comportamentais. Esta definição é algo decerto muito metódico e meio positivista; no entanto, ilustra bem a idéia que quero lhes passar! O diferente é uma combinação de comportamentos que margeiam o nível médio comportamento-padrão. Diante disso, podemos notar que tal definição depende de onde estamos, em que cultura estamos inseridos assim como em que grupo social estamos inseridos. Tais aspectos fazem-nos ligar imediatamente a definição do diferente ao ideário do grupo humano, assim, as diferenças apenas existem quando se comparam a alguma coisa, a algum grupo ou indivíduo símbolo do grupo. O diferente não é um ente de existência própria, pois só se pode ser diferente daquilo que não se é parecido, o que, necessariamente, requer um ente de comparação. Como dissemos no começo, muitas vezes os grupos humanos se apoderam erroneamente do conceito de normalidade e a misturam com a noção de correto, de exatidão humana, algo que decerto fere a liberdade de expressão dos indivíduos humanos, tendo em vista que são as diferenças que fazem com que sejamos únicos e, ambiguamente, parecidos, tendo em vista que nossa prima semelhança é que todos somos diferentes.

A conversa está boa, mas devemos nos retirar agora! Depoismente debateremos um pouco mais sobre o ser humano e seus arquétipos de conduta e de pensamento.



sexta-feira, 28 de maio de 2010

Do Normal


A normalidade é decerto uma busca incessante do homem. Desde tempos idos, a civilização ocidental tem buscado o normal, o padrão, encaixando a isto a definição oposta do patológico, do diferente. A normalidade humana tem em seu arcabouço comparações matemáticas e estatísticas que corroboram em formar a noção da média geral dos comportamentos, que tende a se aproximar do conceito de moda, que seria o comportamento da maioria. Tal busca é inerente ao homem, de certa forma se adequando a tentativa que nossa mente tem de sempre juntar os parecidos, formando a noção de grupo, contrapondo-se os diferentes, o que tece o princípio da segregação.
Deste modo, a busca pelo normal seria um impulso humano que residiria no fato de nossa mente busca agrupar coisas muito parecidas e separar coisas muito diferentes. Isso tudo depende da ótica que temos do que é normal e do que é diferente. Por exemplo, se aproximarmos dois pontos até que não consigamos diferenciar um do outro, teremos a ilusão de os dois terem se juntado; no entanto, sabemos que isso não ocorreu, apenas a resolução de nossa visão é menor que a distância que separa os dois pontos em questão. O mesmo princípio pode ser usado para o comportamento humano, tomando como conceito que este é a expressão da personalidade. Logo a impressão que temos da similaridade de duas pessoas é oriunda de nossa incapacidade de notar as sutis diferenças, assim como a oposição que vislumbramos em dois comportamentos é oriunda da incapacidade que temos de notar as sutis semelhanças. Sob este aspecto, as tessituras comportamentais que percebemos nos outros são apenas nuances de um comportamento real, o que seria uma boa retomado ao Mito da Caverna de Platão em A República.Este comportamento percebido é aglomerado a outros comportamentos, fazendo um apanhado e traçando-se o normal, que, pelo já exposto, é baseado em noções superficiais do ser humano, sendo, assim, um conceito vago e impreciso.
Assim, denota-se o conteúdo ilusório do conceito do normal humano. No entanto, não devemos achar que este conceito é infundado ou desnecessário, tendo em vista que este é um bom parâmetro de conduta geral, de padrão de comportamento, tendo em vista sempre que devemos considerar uma ampla variação deste "normal".
É válido ressaltar que o patológico seria um estado de desequilíbrio comportamental interno, sendo uma quebra entre a tessitura comportamental de uma pessoa; tornando a abordagem coletiva do patológico pouco factível, porquanto se fundamenta no conceito de normal que relatamos anteriormente.

Do pensamento


O que é o pensamento?
Bem, esta é uma pergunta um tanto quanto difícil de se responder; no entanto, como sendo nossa primeira postagem, acho de bom tom que comecemos com um debate sobre este ente do psiquismo humano.
O ato de pensar requer vivências, aliás, o ato de pensar é uma conseqüência de uma vivência, e o pensamento é produto de tal vivência. Imaginemos a situação: uma menina de treze anos de idade se apaixona por um rapaz de quinze, vai pedir um beijo, e ele, maldosamente, nega. Temos aí uma vivência, o ato de se apaixonar, que faz com que a menina pense - pense no rapaz é óbvio!
O pensamento é algo que difere o homem dentre seus iguais, que o torna único. Mas não imaginemos que o pensamento seja apenas um ato, simples e bobo. Pensar é uma mecanismos muito complexo, onde a personalidade age de forma preponderante, tendo em vista que é a personalidade que molda o pensamento, que o faz caminhar para um lado ou para outro. No caso da meninazinha que falávamos, se ela for uma pessoa com susceptibilidade para crises depressivas, teríamos uma boa chance de se desencadear um quadro melancólico-destrutivo; se, por outro lado, esta menina fosse uma pessoa astênica, talvez nem o ato de se apaixonar fosse observado, o que demonstra o poder da personalidade sobre o ente pensamento e todas as consequências deste.
Poderíamos comparar o pensamento como uma argila, que seria moldada pela personalidade, mas que seria constituída pelo intelecto da pessoa, ou seja, é como se o nível cultural, o nível intelectual fosse o tipo de argila, constituísse o material essencial sobre o qual um agente de moldura agirá. Este agente é a personalidade. Assim temos que o pensamento é um produto de duas entidades diferentes do psiquismo humano: a personalidade, algo que sofre grande determinação interna; e o instrução, que aflora como algo determinado pelas condições de exposição, pelas condições sociais em que se vive, gerando assim uma interação forte entre o interno e o externo, fundando o que seria o produto desta relação: o pensamento.
Apesar de esta definição ser bem alegórica e fácil de se entender, temos de ressaltar que a personalidade e a intelectualidade se misturam, uma influindo na outra, fazendo com que esta interseção seja de grande forma ressaltada, mostrando o quanto intrincada é a feição do pensamento.
Deste modo, o pensamento é uma entidade poderosa e complexa, que tem em sua constituição dois grandes pilares da mente humana: o modo como interagimos com o mundo externo( tessitura personalística); e a maneira como captamos as informações externas e a damos significação intterna(tessitura intelectualística).
A imaginação tem no pensamento sua base, na inteligência sua abrangência e na personalidade sua direção.